Quando recebeu o convite para assumir o Ministério da Micro e Pequena Empresa, Luiza Helena Trajano se aconselhou com pessoas próximas. Uma delas já havia ocupado um importante ministério e disse à amiga: "Só vá para Brasília se garantirem uma boa estrutura de trabalho, que você não ficará em uma salinha com uma equipe de meia dúzia de pessoas". O tempo passou, o convite caiu no esquecimento. Hoje, a julgar pela quase nula representatividade do ministério e pelo sinuoso rumo que o cargo tomou ao ser entregue ao vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, pode-se dizer que a intuição de Luiza Helena, que não se entusiasmou com a proposta de colocar os pés na política, falou mais alto. Aliás, como quase sempre.

O instinto e o tino comercial – expressão tirada do tempo em que a menina de 12 anos aproveitava suas férias escolares para ficar no balcão da loja da família – são marcas registradas da mulher que transformou o Magazine Luiza em uma das maiores redes varejistas do País. Luiza Helena é uma empresária à moda antiga – ou, ao menos, faz de tudo para parecê-lo. Mesmo depois de duas décadas no comando da companhia, preserva velhos hábitos, como visitar as lojas e trocar dois dedos de prosa com clientes e funcionários – aos quais pede para ser chamada simplesmente de Luiza. Como dizia Kant, todo o conhecimento começou com intuições. A trajetória de Luiza Helena Trajano se confunde com a do próprio Magazine Luiza. Confunde-se tanto que é comum e quase automático se imaginar que ela é a Luiza que dá nome à rede. Na verdade, o batismo do magazine foi uma homenagem a sua tia, de quem herdou o nome. Luiza Trajano Donato e seu marido, Pelegrino José Donato, fundaram a empresa a partir de uma pequena loja de eletrodomésticos e móveis sediada em Franca, no interior paulista, comprada ainda na década de 1950.